Desde o tempo de Harry Truman na década de 1950, quando os negros ainda sofriam segregação, até Barack Obama, o primeiro presidente negro, ele era uma testemunha privilegiada dos acontecimentos mais importantes da história.
Nascido em 1919, Allen viu seu pai ser assassinado por causa da cor. Ele teve uma vida pessoal sofrida e morreu em 2010. Essa história só ficará conhecida da maioria das pessoas este ano. Sua biografia foi adaptada para o cinema no longa “The Butler” [O Mordomo], que está por três semanas em primeiro lugar nas bilheterias americanas. O sucesso imediato é confirmado pelo fato de já estar sendo apontado como o principal candidato ao Oscar de 2014.
No elenco, Forest Whitaker vive o mordomo e Oprah Winfrey interpreta sua esposa, Gloria. Dirigido por Lee Daniels, o elenco conta ainda com nomes de peso como Jane Fonda, Cuba Gooding Jr, Robin Williams e o cantor Lenny Kravitz.
O que chega as telas, porém, não é um relato totalmente biográfico do neto de escravos que chegou a ser o chefe dos empregados da Casa Branca.
Renomeado como Cecil Gaines, o mordomo retratado é apenas inspirado na biografia de Eugene Allen. Embora seja uma verdadeira aula de história política, outro aspecto importante de sua vida foi suprimido.
Durante quase 60 anos, Eugene Allen foi um membro fiel da Primeira Igreja Batista de Washington, serviu como diácono. Era visto por todos como um homem humilde e de muita fé. Os obreiros da igreja predominantemente negra que conviveram com ele, o descrevem como um “pacificador”. Dedicado, além de recepcionar todo domingo as pessoas que chegavam para o culto, ele arregaçava as mangas e ajudava na cozinha quando haviam jantares especiais.
O pastor Robert Hood, que conviveu com Allen declarou: “Ele não foi apenas um serviçal na Casa Branca… também estava fazendo o trabalho do Senhor.”
O sucesso nas bilheterias da produção que custou 30 milhões de dólares já arrecadou quase 100, se deve, em parte, aos membros das igrejas de negros americanas. Um trabalho especial de divulgação foi feito para mostrar o lado “religioso” da película.
No filme, Cecil e Gloria Gaines são retratados como um casal cristão, com um crucifixo sobre a cama e que leem a Bíblia. Mas o filme faz apenas uma abordagem política, mostrando os duros tempos da segregação racial, passando pela luta dos direitos civis dos negros e lembrando como foi o governo de oito presidentes.
O diretor Lee Daniels, que foi criado numa família evangélica, disse que era importante para o filme incluir elementos religiosos. Ele disse que lutou para incluir uma cena que mostra o mordomo num jantar da igreja na qual um coro canta um hino. “Você não pode contar uma história sobre o movimento dos direitos civis, sem a música gospel e os pastores negros”, disse ele. “Isso é impossível”.
O filme acaba sendo atrativo para os cristãos, pois mostra uma mensagem positiva de alguém que compartilhava de sua fé, mas está longe de ser um filme “gospel”. Por isso, grupos cristãos questionam por que o estúdio que produziu o longa suprimiu em grande parte a importância da fé de Allen.
Talvez como resposta a isso, a empresa The Weinstein Co., contratada para a campanha publicitária, elaborou inclusive um “guia espiritual”, para ser usado pela igrejas interessadas. O material faz um paralelo de temas do filme com reflexão e passagens das Escrituras. O guia afirma em sua introdução: “O objetivo é ajudar a relacionar a comovente história de Cecil Gaines às nossas próprias histórias pessoais enquanto nos esforçamos para viver uma vida cristã mais autêntica.”
Até mesmo um trailer diferenciado foi produzido para ser divulgada pela mídia cristã, onde a trilha é uma balada gospel e mostra Whitaker orando na igreja com o áudio “Acho que Deus estava cuidando de nós”. As informações são de Religion News e Washington Post e edição Gospel Prime.
O filme ainda não tem previsão de estreia no Brasil.
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