Eu admito. Eu sou um inimigo-de-filmes-cristãos reformado! Durante meus dez anos como crítico de filmes seculares, eu acabava com os filmes cristãos assim como o resto dos críticos de cinema. Má qualidade. Má atuação. Histórias terríveis. Diálogo brega e falso. E a “obrigatória” cena de conversão em cada um daquelas 'porcarias' de filmes.
Então,
quando eu fui contratado para criticar filmes cristãos exclusivamente, meus pobres
chefes tiveram de passar semanas me ajudando a entender algumas questões: a dificuldade
de unir cineastas nobres de espírito com audiências orientadas por valores, a
ausência de bons roteiros, a dificuldade da distribuição de filmes com uma
linguagem “muito moderna” em igrejas e varejo cristão, o limitado grupo de
talentos, a dificuldade de agendar um elenco talentoso e equipe talentosa
juntos no mesmo projeto, a dificuldade de fazer isso com pouco ou nenhum orçamento, e da incapacidade geral para definir o que faz um
filme cristão "bem sucedido". Então, eu mordi minha língua e tentei
ser encorajador. Depois de anos dando consultoria para roteiristas
seculares, eu tentei entrar para a indústria
cinematográfica cristã. E então eu senti na minha própria pele! Com
literalmente centenas de vozes, opiniões e profissionais inexperientes
envolvidos em cada produção, é na verdade um milagre que qualquer um desses filmes
seja sequer produzido!
Então eu
comecei a valorizar as pessoas que trabalham contra todas as probabilidades de
obter um filme decente feito. Eu também comecei a reconhecer os momentos em que
estes cineastas acertavam. E com um número sem precedentes de filmes cristãos
chegando aos cinemas este ano, eu esperava o melhor. Eu esperava lucros
financeiros, esperava por olhares de estúdios curiosos de Hollywood, e o apoio
das platéias e críticos cristãos.
Mas depois
de alguns fracassos de bilheteria já terem me desencorajado este ano, o terrível
tratamento dos críticos para com o filme “Apocalipse” quase apagaram meu último
raio de esperança. Quase toda a panelinha de críticos e revisores cristãos crucificaram
esta produção de 15 milhões de dólares envolvendo uma lista “A” de atores e uma
equipe de produção secular muito experiente. Os críticos disseram a seus leitores que
o filme não era cristão, que ele não conseguiu instruir as pessoas em nossa fé,
que os valores de produção estavam abaixo de pobres, e que no geral foi pior do
que o filme original “Deixados para Trás” (francamente, estão falando sério?).
Várias
coisas me ofenderam com isso. Em primeiro lugar, é uma loucura pedir para
cineastas pararem de incluir um diálogo
brega, cenas de conversão e sermões em seus filmes, mas depois acusá-los de não
serem cristãos o suficiente quando o fazem! Em segundo lugar, é uma vergonha sufocar
a diversidade dos filmes cristãos. Por que todo filme tem que ser um drama? Não
podemos fazer ação, comédia, ficção científica ou filmes de desastre e
permanecer fiel aos formatos desses gêneros (pensando em “Believe me”, “The
Giver”, e “Apocalipse”)? Em terceiro lugar, é ridículo dispensar completamente a
qualidade de produção e enredo deste último filme. Cada um de todos os filmes-catástrofe
já produzidos tem um desenvolvimento de personagem medíocre, tramas impossíveis
que permitem pessoas escaparem da morte (basta lembrar de “Armageddon”, com
Bruce Willis), má atuação e diálogo fraco (basta lembrar de qualquer outro
filme-catástrofe), e uma combinação de ambos: qualidade medíocre e efeitos
visuais pobres. “Apocalipse” é absolutamente fiel ao seu gênero, e é o mais
próximo que temos visto de duplicar um modelo bem-sucedido de filmes Hollywoodianos dentro do gênero "catástrofe".
Mas o maior
problema que eu vejo neste ‘garimpo’ dos críticos é a pura negatividade que se
espalha antes mesmo dos filmes estrearem. O público cristão até espera que críticos
seculares redicularizem seus filmes, porém se os próprios críticos cristãos
impiedosamente massacram um filme, então os cinéfilos de plantão realmente
cancelam seus planos de ir vê-lo. E com isso os críticos cristãos literalmente matam a bilheteria de um filme no fim de
semana de lançamento.
Nós
parecemos ter esquecido que o crescimento futuro da indústria cinematográfica
cristã está em grande parte nas mãos dos Investidores. Então a pergunta é: Estão os filmes sendo
bem sucedidos de forma que os investidores irão investir novamente? Assim,
quando um filme falha na bilheteria, toda a indústria sente. Além disso, ele retarda
nosso processo de melhoria. Por exemplo, não terá como melhorar o gênero cristão
de "filme-catástrofe" por uns bons dez anos ou mais simplesmente porque
ninguém vai querer investir em um outro se este não bombar nas bilheterias.
Também pode significar que não vão querer pagar grandes atores ou investir para
contratar equipes experientes. Como então podemos melhorar?
Além disso,
essa situação envia uma mensagem terrível para Hollywood, a qual está nos observando
atentamente à medida que começamos a colocar nossos pés na praia deles. Eles
estão decidindo se vale a pena ou não fazer negócios com a gente ou mesmo se
vale a pena investir na criação de estúdios cristãos paralelos, como o Affirm Films da Sony Pictures, ou mesmo o Word
Entertainment da Warner Bros. E
quanto mais filmes fracassam, mais nós lhes enviamos a mensagem de que nós
realmente não sabemos o que queremos em um filme cristão, e que eles deveriam
nos deixar em paz por mais uns dez anos, até conseguirmos descobrir o que
queremos.
Então aqui
está o ponto de meu discurso. É uma chamada para críticos e espectadores
que fazem comentários sobre os filmes em vários fóruns e mídias
sociais:
Eu estou te
chamando para uma busca continua de graça.
Enquanto filmes cristãos vão melhorando a cada ano, esta ainda é uma indústria de
classificação “B” em que a maioria de filmes lançados são independentes.
Reconheça as limitações assumidas por estes cineastas e os incentive a melhorar.
Deixe expandir sua definição do que constitue um "filme cristão".
Pare de puxar saco apenas de filmes cristãos dramáticos, peças de evangelismo
com discurso furando, e comece a abraçar e aceitar também alguma diversidade
de gênero e estilo. Entenda que também é aceitável fazer um filme-catástrofe,
um filme de ação, ou uma comédia romântica.
Eu estou te
chamando para reconhecer os anos de trabalho e ‘ginástica política’ necessários para levar um filme para as tela,
e demonstre respeito por aqueles que estão tentando. Incentive-os. Apoie-os.
Eu estou os chamando para serem “bons samaritanos”, para curar as feridas produzidas nos
corações dos cineastas cristãos pelos críticos seculares que fatiam suas obras
parte por parte (eu prometo, eles vão eventualmente aprender com seus erros). Mas
será que os nossos próprios irmãos precisam também derramar ácido sobre suas
feridas?
E, para os
críticos, em particular, eu estou te chamando para um alto padrão de ética de
trabalho, para tornarem-se melhor em seus trabalhos. Qualquer pessoa pode
reclamar, apontar falhas, e expressar suas próprias aversões pessoais sobre um
filme. (Eu sei, porque eu fiz isso por muitos anos!). Mas quem é que poderá
oferecer uma crítica construtiva e opiniões honestas, incentivadoras e
edificantes, senão o público e críticos cristãos? Uma coisa é discutir as áreas
problemáticas de um filme ao mesmo tempo que você destaca os pontos fortes
(mesmo que os pontos fortes sejam poucos. Os cineastas precisam ser informados
e apreciados pelo que estão fazendo certo também.). Outra coisa totalmente
diferente é ser tão mesquinho ou brutal que o público não vai mais sequer
querer ir assistir aos filmes. Nós não precisamos ignorar as falhas ou dar
elogios onde não são merecidos, mas podemos SIM seguir o princípio bíblico de
falar a verdade em amor.
Por fim, e talvez
isto seja o mais difícil, estou chamando todos à humildade e servidão. Eu sei
como é fácil escrever uma peça de crítica que me eleva a uma espécie "ser superior
e expert do assunto”. Eu sei como
escrever coisas que me fazem parecer mais profissional, mais experiente, mais
perspicaz ou mais espirituoso do que as outras pessoas lá fora. Eu posso fazer
isso. Num piscar de olhos. (Mais uma vez, eu sou mais culpado disso do que
qualquer um pois fiz isso por muitos anos.) Mas eu tive que me perguntar ... A quem
isso está servindo? A Deus? Aos cineastas? Ao público que quer que mais filmes sejam
produzidos?
Considere o
seu papel, meu amigo cristão e crítico. Considere o seu impacto. Considere a
influência positiva ou negativa do que você fala ou compartilha nas redes
sociais. Considere o motivo pelo qual você gosta de filmes, a razão de você
continuar os assistindo, e a razão pela qual você ama escrever sobre eles. Em
seguida, sirva-se de suas opiniões com um coração amável e bondoso.
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